terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Filgorn

Relampagos púrpura rachavam o céu cor de aço e se apagavam lentamente dando ao mundo o gosto das sombras que surgiam. O ar tremia ao sabor do calor incessante e homogeneo. Abaixo dos protestos celestes a terra er cheia de cortes profundos e montes escarpados, tudo no mesmo tom enegrecido.

Dois homens ignoravam o calor como se ele não destorcesse tudo que viam, um usava um armadura de placas arroxeada com detalhes finos em dourado, o cabelo em seis tranças que escorriam pelos ombros para o peito e uma capa presa ao resto por dois simbolos da cúpula de prata. A capa era negra por dentro e do mesmo tom da armadura por fora onde tinha gravados simbolos arcanos extremamente complexos assim como os que haviam na espada, essa estava largada no chão, abandonada, observando a frágil e cordial paz entre os dois. O outro homem era destino e os dois poderiam assistir o tempo escorrer por entre as fendas vazias. Mas falaram.

_É uma pena que Aver tenha sido condenada.
_ Uma pena mesmo. Mas a quantas anda a libertação dos daedrin?
_ Eles estão livres a seis anos e estão bem. Acho que isso é bom.
_ Nenhum deles se ressente ou coisa assim? São um povo meio pacato, não é?
_ Só queria saber o que os dragões querem com eles.
_ Eu até sei o "porque", mas o "oque" é só com eles. Tente perguntar ao Naive, ele ainda estuda magia do sangue ?
_Talvez eu pergunte sim e ele ainda estuda incansavelmente a magia do sangue. Sempre tem algum estudo arcano na cúpula.
_ É filgorn, a cúpula é otima, mas vocês foram longe demais. Mudaram muito as coisas e o mundo não vai suportar para sempre.
_ Foi para isso que me trouxe aqui? Quer que eu dissolva a cúpula de prata? Não vou fazer isso, Mildef é meu tio e seu irmão, a cúpula é o sonho dele e o meu também. Nós já estabilizamos o mundo, acabamos com guerras , protegemos as pessoas e até lutamos ao lado dos deuses. Nós fizemos coisas incríveis: cidades que voam, golens surpreendentes, criamos novos meios de construir e usar a natureza. Expulsamos os demonios e erradicamos a ameaça extraplanar. Nós somos indispensáveis. Somos irrevogáveis. Nós somos ...
_ Vocês são cachorrinhos dos deuses medrosos. Vocês fecharam o mundo, roubaram o dever dos deuses, espoliaram seus domínios. Condenaram o mundo a mediocridade subservientedestruiram o equilibrio. Vocês racharam a realidade e os deuses estão morrendo. Cei vai acabar devorando a existencia e estamos isolados de todo o resto. Já tentou olhar o...
_ Você dúvida do nosso valor? Nos compara a uma doença. Esqueceu quem me deu as primeiras aulas de magia? Esqueceu quem convenceu os deuses a nos ajudar? Você falou por nós para deuses. Você...
_Escolhas erradas, vi me culpar por ter me iludido com os seus ideais?
_Você devia ter previsto, devia ter impedido.?
_Não se pode deter o destino. Vocês vão destruir tudo.
_ Não. Nós não vamos, somos herois.
_Exato, vocês vão salvar o mundo. Você vai.

Nesse momento os relampagos tinham parado e as sombras ganhavam espaço. Filgorn pegou a espada no chão e sem mudar expressão irritada desapareceu em um relampago vermelho. Destino sorriu, tudo era como imaginava , já podia ver o grande dia.


O casamento foi bonito, meio as pressas, mas incrível na verdade. O único problema era o luto e a incerteza. O luto era desconhecido pela razão dos presentes, mas sem exceção todos sentiam a falta que faria a deusa dos homens que estava sendo destituída de seu cargo num tempo que era para os deuses diferente do que era para os mortais. A incerteza era clara, nenhum rei já foi consagrado sem ter o sangue da família real. Família que dispensava sobrenomes sendo apenas a família real de Antharos.

A princesa andava até a esfera azul que marcaria seu marido o aceitando como o novo e legitimo rei. Ela tinha certeza que ficaria tudo bem. Sempre ficava com ela. O príncipe estrangeiro estava vestido como o soberano que seria. Brilhava mais que a própria noiva, que estava transbordando irritação por não ser o centro das atenções mesmo com o vestido que impedia que os homens olhassem para as próprias esposas sem se sentir injustiçados. Os passos de Ishtar faziam um som estranho de metal, exatamente o que se esperaria de um guerreiro indo matar um dragão ou monstro similar. Este estava a caminho de desposar a flor mais preciosa.

_ Você vai queimar esse vestido depois da noite de nupcias.

_ Ora, por quê ?

_ Se não o fizer onde acha que minha mente vai estar todo o tempo?

_ Agora mesmo que não vou queimar, talvez...

O Sacerdote interrompe os sussurros com um pigarro. Sacerdote só no nome,era na verdade um bardo velho que conhecia toda a historia da família e estava morrendo de medo de casar um príncipe que não fosse aceito.

_ Senhoras e senhores, nobres e convidados, serão hoje apresentados ao soberano desse reino. Ao homem que nos guiará durante esses anos escuros que se aproximam.

Ishtar foi até a esfera e deixou sua esposa para trás exatamente como foi instruído a fazer. Tocou a esfera e então. Nada. Nada mesmo aconteceu. Leighann se irritou saindo de seu lugar e indo até o rei. A esfera começou a brilhar levemente enquanto ela se aproximava e o bardo gorducho suava desesperado, mas sem coragem de impedi-la. Ela tocou levemente o ombro do futuro marido e então a esfera brilhou com força e marcou dolorosamente o rosto do rei junto com seu braço e sua alma. Ele viu como amaria o primeiro filho de sua esposa mais que o segundo e como mesmo assim o deixaria fugir. Viu como evitaria a primeira ameaça de guerra de seu pai. Viu como comandaria um exercito com Ecktor ao seu lado. No momento seguinte assim como a marca no rosto parou de brilhar as imagens se apagaram e foram esquecidas deixando apenas uma sensação que sentiria muito depois.

Assim se fez a primeira rainha de qualquer dos reinos dos homens. A rainha que passou três meses em um dos seus castelos sozinha com o rei. A rainha que esperou que estivesse grávida desesperadamente. Queria dar um menino ao seu rei que era um marido tão bom quanto era amante, mas era um rei fraco. Por enquanto fraco, mas seria temperado como uma boa espada e seria um rei forte e criaria um herdeiro forte. Herdeiro era a palavra que devia preocupar o rei, mas ele só pensava em guerra, a sombra de uma guerra eminente mantinha-o longe de sua esposa que resolveu aprender enquanto estava sem ele. Aprender a impressioná-lo, aprendeu a falar a língua dos elfos, aprendeu a tecer como uma camponesa, aprendeu o direito das leis, aprendeu a organização das cidades e por ultimo aprendeu a arte da guerra. Era frágil e desajeitada na ultima disciplina, mas não poderia ter professor melhor. O campeão do reino em pessoa treinava a esposa do rei e o próprio rei quando esse se permitia o luxo do treino.


Nenhum comentário:

Postar um comentário