Leighann tinha conseguido fugir de suas acompanhantes e como de costume acabou perdida entre os cômodos do castelo, pediria ajuda logo que encontrasse um ser vivo inteligente, porém mudou de idéia quando finalmente o encontrou. Um homem alto numa armadura prateada bem simples que tinha como únicos ornamentos três símbolos de deuses velhos. Era um homem de aparência simpática, mas parecia distante e perdido como ela.
_ Nunca vi o senhor por aqui. Quer ajuda?
_ Não, princesa. Vim parabenizá-la pelo seu casamento e me encontrar com um velho amigo elfo. Milldef, parece que vocês se conhecem.
Enquanto falava o homem se aproximou, era maior do que ela havia percebido. Faria Ashlen parecer bem normal, talvez até um pouco baixo. Ajoelhado quase a olhava nos olhos já que não era muito alta. Tomou sua mão entre as dele e ela se sentiu ainda menor, suas mãos pareciam tão infantis sobre aquelas luvas de aço polido.
_ Princesa, quero lhe avisar que sinto muito pelo que irá acontecer com a sua religião. Nada que eu faça vai poder corrigir isso, pelo menos não para mim. _ O homem olhava pro chão enquanto falava, parecia prestes a fazer algo que não queria, mas estava falando coisas insanas. O que ele poderia fazer sobre os deuses? _ Vou proteger vocês todos como ela iria querer.
_Não devia preocupar a princesa com isso. – A voz do elfo foi algo que ela já esperava ouvir, mas não poderia ter vindo em melhor tempo, ele sim poderia ter algo com os deuses, poderia ser um. Era o mago mais poderoso, o mortal mais poderoso, podia pressionar qualquer reino e se o fizesse seria em favor de Antharos. – Leighann, não esperava vê-la vagando por esses corredores sem graça, mas esqueça isso e me diga o que houve com o seu plano de mudar a capital para o litoral?
_ Não cansa de zombar disso, não é seu velho? Minha avó disse que você não a deixava em paz depois que ela te contou dos planos dela pra Arghan.
_Princesa, Milldef quer ver essa Arghan pronta há quase um século, elfos são pacientes, mas esse em especial é muito apressado. – O homem agora estava de pé e ao lado do elfo e assim o fazia parecer um brinquedo. – Milldef vai ficar triste de perder seu casamento, mas preciso dele.
_ Deixe que eu fale por mim mesmo. Leighann, preciso ir, adoraria assistir a união de vocês, mas eu e CEI temos assuntos inadiáveis. De meus parabéns ao Rei e diga a ele que seus planos para Arghan são um absurdo.
Os dois desapareceram numa explosão de faíscas brancas e azuis. A princesa continuava com a boca meio aberta tentando imaginar se era verdade o que ela tinha ouvido. Lembrou das pinturas nas paredes dos três castelos, uma delas a encarava nesse momento. Aver, a deusa dos homens e ao seu lado CEI o líder dos deuses os dois eram juntos o modelo da perfeição. O ar ainda vibrava quando ela voltou a si, tinha de se casar e de qualquer forma não haveria uma despedida para deusa dos homens além da despedida que ela faria.
_ Queria um dia poder olhar nos seus olhos, quantas vezes quis ser você. – ela falava para o desenho que cobria toda uma parede enquanto o tocava com a ponta dos dedos. _ Sonhava em merecer passar a eternidade ao seu lado, mas parece que vou viver mais que você.
_ Para sempre se isso depender de quão linda você é, minha princesa anda falando sozinha ?
_ Não seu príncipe implicante. Acho que estou atrasada. _ ela contorna o recém chegado e futuro rei de Antharos. _ Estou ansiosa para mais tarde. _ Ela se afasta e ele a segue com os olhos ainda sentindo o leve perfume floral e imaginando até a aonde iria por aquela garota. Até aonde iria para tirar aquele vestido.
Os pássaros cantavam irritantes e o sol brilhava tão feliz que até doía. Os dois podiam ver o caminho que cortava a grama até uma casinha de madeira e palha que soltava uma linha de fumaça e um cheiro agradável de pão. O elfo entregou ao humano a arma de um deus e o coração de outro, uma lamina de cristal que oscilava levemente de forma ao acaso e uma peça vermelha e translúcida que pulsava constantemente. Seriam troféus em outra ocasião, mas era uma mensagem dessa vez. O deus fez o caminho sozinho, deixou para trás o elo que não concordava em parte alguma com o que ele iria fazer. Aver estava do lado de fora da casa e o sorriso que trazia no rosto não traia o medo que sentia, estava resignada e de certa forma ate feliz. Poderia ser bem pior.
_ Eu lhe ofereceria pão se fosse do seu agrado.
_ Nunca leva as coisas muito a serio.- disse o deus pondo os objetos antes mencionados em cima de uma mesinha de madeira- Queria estar feliz como você.
_ Você sempre tão direto, vai anunciar a sentença agora? _ Aver falava quase em tom de brincadeira e isso o irritava ainda mais.
_ Você já sabe a sentença, estou esperando suas ultimas palavras. – O deus não conseguia a olhar nos olhos, o crime dela foi grave e a ordem não permite exceções.
_ Quero que meus domínios não sejam repartidos entre os seus deuses velhos. Quero que quatro novas forças assumam meu lugar, e essas já estão escolhidas. _ No fim da frase ela já podia sorrir, no fim ela conseguiu o que queria, seu pedido não seria negado.
_ Você não quer viver de forma alguma ? Achei que fosse ardilosa o bastante para conseguir fugir do seu destino.
_ Você não entendeu? Se eu não for mais uma deusa por que diabos me punirá por um crime divino. Tire o que me for divino e me atire aos mortais. Faça com que me esqueçam e faça com que me esqueça. Sabe que é isso que deve fazer ou então me matar logo.
_ Estou feliz que não tenha desistido. Esse é o seu adeus? As ultimas palavras que eu vou ouvir de você?
_ Não, são essas: Você vai acabar consumido pelo que devia dominar do mesmo jeito que o tempo.
_ Não duvido, mas ser o equilíbrio não é tão mal.
_ Está mais próximo da loucura.
_ Também vou sentir sua falta.
CEI se afastou um pouco e pegou de dentro de um espaço vazio uma esfera azulada, bem clara e indistinta. Aver estava nervosa e um pouco preocupada, valeria a pena viver sem se lembrar de tudo? Seria como ser um humano qualquer e isso ela nunca pode experimentar de verdade.
_ Vamos logo com isso, tenho medo de que o roubem enquanto usa. Me esqueça logo e me deixe viver de novo.
_ Espero que você possa me perdoar, dizem que esquecer as vezes basta. Adeus.
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